Os Desafios na Governança de Escritórios de Advocacia

Nesta disdesafios governançacussão, estou me referindo aos escritórios de advocacia corporativos (com dezenas ou as vezes centenas de advogados e sócios) destinados a atender as empresas de médio e grande porte e com todo o seu universo de desafios jurídicos, num mundo cada vez mais regulamentado e complicado.

Antes de entrar no tema propriamente dito, vamos contextualizar um pouco melhor essa entidade chamada “escritório de advocacia” nos campos subjetivo e Objetivo.

No primeiro, o subjetivo, temos o seguinte:

Tradicionalmente, esses escritórios são formados por alguns advogados com certas características em comum: qualidade técnica em áreas específicas do direito, espirito empreendedor e bom relacionamento, que resolvem se associar por conta do aproveitamento mútuo de cada uma de suas aptidões. Eles podem ter se agrupado em dois tempos totalmente diferentes, ou seja, no começo de suas carreiras individuais ou como “split” de um escritório maior, mas os motivos permanecem os mesmos.

Sob o ponto de vista racional esse aglutinamento faz todo sentido uma vez que a complementariedade técnica cria capacidade empresarial mais abrangente porém, esses então já sócios, são pessoas e como tal precisam ter algo maior que o simples interesse técnico-comercial para se manter unidos ao longo do tempo.

Além das afinidades técnicas, outras afinidades (não menos importantes), de caráter puramente emocional-psicológica também deveriam fazer parte da escolha dessa parceria, ou seja, companheirismo, confiança, objetivos comuns de longo prazo e o mais importante, afinidades pessoais e éticas!

Como já citado em outras discussões passadas, é necessário entender a forma como o advogado pensa, se comporta e como foi trenado em sua formação acadêmica. Esse profissional tem baixíssima tolerância a falhas, alto grau de ceticismo, grande autonomia e baixa resiliência e por fim, pouca ou nenhuma formação acadêmica em gestão. (vejam em “Ajuda profissional *na gestão de Escritórios de Advocacia” – https://goo.gl/M0LVPv).

Outro ponto a ser considerado são os conceitos desatualizados de que a maioria dos líderes de escritórios têm e consideram que “escritório de advocacia não é empresa”, agravado pelo outro conceito existente no estatuto da classe que considera “o direito não é uma atividade mercantilista”

No segundo, o objetivo, temos a seguinte:

Novamente volto à origem, na formação e evolução desses escritórios, que na maioria das vezes começam pequenos e com pouca ou quase nenhuma estrutura administrativa. O problema não está em se começar com pouca estrutura administrativa, mas sim em considerar que esta estrutura é um mal necessário e um componente menor na organização.

Este conceito acaba, ao longo do tempo, criando uma estrutura administrativa deficiente, mal remunerada (contrata-se o profissional mais barato possível) e como consequência, mal preparada e com baixa capacidade intelectual, gerando um “gap” entre as três duas estruturas (administrativa, produtiva e gestora) e principalmente não conseguindo suprir a gestão com informações e relatórios de qualidade e à tempo.

A governança, para existir e ser eficaz, precisa estar apoiada em um tripé formado por uma liderança ativa e de “boa qualidade”, uma equipe motivada e conhecedora dos valores e objetivos da instituição e uma infraestrutura tecno-administrativa capaz de fornecer apoio à tomada de decisão. Nos escritórios é imprescindível a assunção de que estas entidades são empresas, tais como estas visam lucros e precisam ser tratadas como tal.

Liderança é uma característica inata (existem vários livros que inclusive classificam seus estilos) que nem todas as pessoas têm na sua personalidade, mas que, na sua falta, pode ser aprendida e treinada!

Uma das principais funções de um líder é estabelecer e comunicar claramente a todos os níveis os valores e objetivos da organização de forma clara. de modo que cada indivíduo esteja completamente engajado quando fizer seu trabalho ou tomar qualquer atitude profissional que envolva a instituição e a si mesmo.

Motivação de equipe provavelmente é a parte mais difícil de ser atingida pois, envolve o relacionamento humano e a forma como os gestores lidam com seus subordinados. Em escritórios de advocacia, que são empresas formadas única e exclusivamente por pessoas, existe mais um complicador pois, a liderança não é exercida por conta de um organograma com departamentos e cargos rígidos e sim quase que exclusivamente pelo respeito profissional (conhecimento técnico) que cada advogado tem pelo seu companheiro mais experiente. E nem sempre o seu “chefe” se encaixa nessa situação!

Nessas estruturas menos rígidas, a existência uma estrutura de atração e manutenção de talentos composta de um plano de carreira claro com os atributos bem definidos que a instituição espera de seu colaborador em todos os níveis e um criterioso método de avaliação e recompensa e o oferecimento de desafios profissionais à altura de cada estágio da carreira, são fatures determinantes para a criação e manutenção de uma equipe motivada e produtiva.

Por fim e não menos importante, a estrutura tecno-administrativa representa, na minha opinião, o calcanhar de Aquiles na maioria dos escritórios pois como já dito é a considerada como mal necessário e que recebe menos atenção e investimentos.

Para o atingimento de uma estrutura administrativa coerente com a estrutura produtiva são necessários investimentos em contratação de pessoal qualificado, muito treinamento e um pesado investimento em tecnologia aplicada.

A criação e normatização de procedimentos, a manutenção proativa de todos os cadastros e principalmente a determinação de quais informações devem fazer parte desses cadastros formam o arcabouço para criação de uma base de dados robusta e confiável na qual os relatórios utilizados nas tomadas de decisões sejam confiáveis. Sistemas de boa qualidade (específicos para o setor) e uma estrutura de TI robusta são fundamentais, mas sozinha, sem a parte anterior deste parágrafo, não resolve o problema.

A comparação metafórica que sempre faço com os computadores os dados a que eles se baseiam e os relatórios gerados é que eles são meros “ventiladores”. Se você abrir um frasco de perfume atrás dele, esse ventilador espalhará o agradável aroma daquele perfume pelo ambiente, mas se por sua vez você abrir um recipiente com merda, ele irá espalhar esse desagradável odor pela sala!

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